Bolinhas de Gude x Valores
Mês de setembro! A natureza emitindo um cenário de harmonia,
aromas, flores e cores.
O passaredo feliz, cantando aos quatro pontos cardeais.
As laranjeiras exalando o perfume adocicado de suas flores, convidando os colibris e
beija-flores, a lhe colher o néctar.
O céu de um azul límpido, cristalino e inspirador, levando todos os seres a inebriarem-se do seu
sorriso acolhedor e singular.
A alegria se instaurando e tomando conta de cada ser do
micro e macro universo.
Dirigindo a atenção para a Escola EB. Pedro Silveira se
percebe que todos os atores da educação, manifestam-se alegres, ativos,
agitados, com vontade de transgredir a disciplina conteudista, que lhes é
incutida, como sendo a ideal. Nota-se nitidamente que a primavera chegou,
convidando a sair do ostracismo, no qual, o inverno havia enclausurado a todos,
por seus dias e noites de frio cortante.
Dona Maria, professora de Ciências e Educação Artística,
está preocupada com seus alunos da 5ª série, pois, com o advento da primavera,
com seus dias ensolarados, também enalteceu a vontade dos alunos a
trazerem suas latinhas de bolinhas de
gude, para jogarem na hora do recreio.
Mas as tais bolinhas de gude, começaram a trazer
transtornos, durante as aulas.
Ora as latas caíam, ora eram bolinhas de gude no chão, ora
trocavam entre si as bolinhas que
tinham como pecas ( especiais), ora brigavam porque algum amigo mexia na
latinha de bolinhas do vizinho de classe, cadeiras e carteiras eram arrastadas
a cada segundo, para ajuntarem as
bolinhas caídas no chão.
Era uma verdadeira bagunça, impossível de se ministrar
aulas.
A folia era constante, isso não contando com as inúmeras
chamadas:
- Professora, olha o
Pedro!
-Professora, não fui
eu, foi o João!
-Professora, a Larissa
tomou minhas bolinhas de gude preferidas!
As aulas estavam ficando insuportáveis.
Dona Maria, refletiu muito, e prometeu a si mesma, tomar uma
atitude para acalmar o clima e poder ministrar suas aulas.
Foi para casa e pensou em inúmeras alternativas, para
negociar com seus alunos num diálogo aberto com perguntas, ideias, e trocas.
No dia seguinte, voltou a aquelas salas de aula, com outro
olhar e compreensão, para com as polêmicas bolinhas de gude, que não queriam
ficar quietas em suas latas.
Pediu aos alunos que fizessem um grande círculo, para
conversarem e resolverem em parceria o assunto incômodo, em sala de aula.
Dona Maria esclareceu-os sobre o tema a ser tratado, e pediu
que cada um pensasse numa solução.
Aproximadamente uns quinze alunos se pronunciaram, outros
preferiram ouvir. Após ouvi-los, dona Maria, socializou sua opinião e junto com
os alunos traçou algumas metas e objetivos.
As metas diziam respeito à disciplina, atenção, aprendizagem
e respeito em sala de aula.
Ficou acordado, de bom grado, de que, todos os que possuíssem
latas com bolinhas de gude, guardá-las-iam, durante as aulas, sobre a mesa da
professora. Logo que batesse o sinal, para o término das aulas, poderiam
recolhê-las e brincar na hora do recreio.
Dona Maria, felicíssima com a concordância dos alunos,
disse-lhes que haveria uma surpresa ao final de uma semana, de aulas mediadas e assistidas com interesse
e aprendizagem.
Assim sendo, após uma semana de paz e intervenções
positivas, os alunos cobraram de dona Maria, a surpresa.
Esta não deixou por menos. Falou-lhes que na próxima aula de
Educação Artística, iriam jogar bolinhas de gude, no pátio da escola, que
ficava um pouco retirado das outras salas, evitando assim, o barulho para os
outros alunos, que estavam em aulas naqueles momentos.
E, finalmente chegou o tão esperado dia:
Mas, antes de saírem para os jogos, dona Maria elencou
alguns objetivos no quadro, dos quais os alunos ficaram cientes e
compreendendo-os concordaram:
Objetivos traçados:
- Escolher os líderes,
para formar as equipes de jogo,
- Respeito mútuo,
- Disciplina,
- Ajuda aos que não
sabiam jogar corretamente,
- Saber escolher as
equipes de acordo com as necessidades de aprendizagem,
- Saber ganhar e saber
perder, sem causar discussão,
- Formar equipes de
apoio, para os jogos e respectivamente aos colegas em sala de aula, quando se
fizesse necessário, durante os momentos de aprendizagens,
- Saber manter a
organização em sala de aula,
- Dizer-se e saber
ouvir,
Todos foram aos jogos, inclusive dona Maria, que participou
com a ajuda dos mais entendidos de sua equipe.
A aprendizagem foi grande e recíproca. Passaram momentos
maravilhosos, durante os jogos e após também.
Ao voltarem para sala de aula, ficou combinado de que na
próxima aula fariam o feedback dos
momentos vivenciados.
E, foi riquíssima a rodada de conceitos expressados pelos
alunos e professora. O melhor de todos, foi a confiança mútua.
Para a surpresa de dona Maria, os alunos indisciplinados de
antes, estavam orgulhosos e felizes, por poderem ensinar e ajudar os outros
alunos, que até então, sabiam-se os mais inteligentes.
Desde este dia em diante, as aulas foram muito proveitosas e
a mediação dos conteúdos, bastante significativa e prazerosa.
Os valores enalteceram-se, sendo vistos e sentidos de
forma clara e objetiva por todos.
Que saudades das 5ª séries!
Quanto conhecimento, ali produzido e compartilhado!
“Quem projeta as
suas ações em bases sólidas,
edifica
construções de conhecimento, em que se
vivenciam
aprendizagens, com valores
significativos e
prazerosos.
(Margarida
Lorena Zago)
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